Com minhas patas de leonino abro os olhos. O mundo está zunindo ao meu redor, como um primeiro passeio numa densa mata tropical. Algo me convence a despertar sempre mais. São os raios tímidos de um pôr-do-sol africano. Logo vejo que fui confortavelmente colocado num ninho tépido, feito de pedras e capim.
Uma força incontrolável me excita, mal posso suportar a agonia. É a fome, fome! A última vez que comi foi quando mãe leoa caçava pela manhã. Escalo a lua com meu pescoço, meus membros são frágeis enquanto descanso meu corpo n'areia morna. Mas o instante foi pouco.
De inimigos aproximando-se roucos, sinto o som de rugidos odiosos. E uma cegueira inexata, inexplicável, sobre minhas pernas não param de fazê-las tremer. Mas eu não entendo nada da vida, somente acabei de nascer. Mal tenho juba. Um dia ainda serei um dos mais belos do bando, pois minha juba será a maior de todas!
Enquanto isso meus parentes parecem em guerra e voam pelos ares ao meu redor. Minha mãe certamente está na retaguarda, guardando-me da fúria de alguma besta. Um ataque a mim e ela morreria. Morreria se nada fizesse. Mas que asneira, ela não foge, nunca foge. Ninguém toca o meu corpinho.
De bem longe em minha face encostam os ventos vindos daquela montanha próxima. Tenho sede de leite, mas mãe leoa logo vem... Não demora. Não demora. Ouço gritos sofridos, devagar se aproximando de mim, e o ar parece pérola.
É nesse momento, inseguro e ansioso, que escuto um breve e desesperado rugido, o qual de minha mãe, dessa vez eu tinha certeza, tinha partido. E o instante foi pouco, ligeiro. Quase nada.
Que azar! Que má sorte a minha! Morrer tão cedo de uma dentada.
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