(A cena tem início num quarto modesto, bem mobiliado. Um homem abre a porta e adentra no recinto, ele não parece ter pressa ao despir-se, suas ações são vagarosas e precisas. Ele tira toda a roupa e senta-se encostado a parede do quarto, e posta a sua frente um enorme livro, do qual lê alguns versos. Cruza as pernas, deixa a coluna ereta e respira profundamente durante alguns minutos, em profundo silêncio.)
(Uma voz masculina, sua voz interior, narra então os pensamentos sobre os quais o homem reflete:)
- Meu trabalho agora é ser calmo, presto. Porque a felicidade é calma. Preciso acordar numa manhã de nuvens e gozar. E o gozo deve ser calmo. Quando é estrondoso, ansioso, agitado, o gozo se vai na mesma intensidade com que veio. Poderei eu sorver, em meu coração que se declamou, os prazeres múltiplos da vida, lentamente, como uma planta? Antes preciso ser como a planta. E a planta é calma, tão calma, que nós temos a impressão que ela está imóvel, estática. Mas eu não acredito nisso. Meu trabalho agora é produzir meu próprio alimento, e gozá-lo junto a quem quiser gozar comigo. Ser verdade. Existem tantas coisas que eu devo permitir e prosseguir, para alcançar o meu amor. E uma dessas coisas é o objeto desse amor, minha musa, minha deusa. Portanto, nesse momento de rebento, o melhor a se fazer é, unicamente, ter calma. Esqueça o elevador e concentre-se na escada. No elevador você desloca-se 60 metros apertando 1 simples botão. Mas isso é insubstancial quando se trata da construção do auto-amor, conhecimento e crescimento interior, pois um botão mágico é capaz de produzir um salto preguiçoso, irmão da covardia. Na escada, os 60 metros são expandidos como um gás, em forma de degraus pequenos, onde só cabe subir um pé por vez. Se for para começar, que comece assim: A todos que eu amo e são presentes, dádivas, dons, que eles possam fruir da mais completa e iluminada tranqüilidade, e da minha tranqüilidade e prazer. Pois é tranqüilo que o prazer deve ser consumado. Calmo como as árvores, ou as nuvens, ou a pedra, ou a água que corre no leito do rio. Se o momento é de rebento e palavras, meu trabalho agora é entender. Antes devo compreender que a energia amorosa é apenas a seiva que já deveria estar correndo em minhas veias. A mesma seiva que leva a glicose à extremidade mais aguda de uma árvore milenar. Eu preciso usar essa energia para buscar me amar. Eu preciso libertar meu amor de qualquer objeto, para que eu, posteriormente, o possua da forma mais plena e feliz comigo mesmo. Esse é o meu trabalho, agora que floresceu uma flor dentro de minha barriga. Esse amor é meu, é Deus. Devo compartilhá-lo. Devo torná-lo claro, energético. Não tenho tempo a perder, e preciso de muita fé. Como? Bastando para mim mesmo. Derramando meu espírito sobre a verdade universal, sobre a calmaria da escuridão que está acima de nós. Combatendo o caos eterno que vem sofrendo o nosso mundo. A partir de agora, devo proceder de forma a colorir meu corpo. Devo descobrir a doçura de cada sensação. Amar o prazer da simplicidade. Ter fé, acreditar por querer acreditar, sem exigir a comprovação milagrosa, nem os fundamentos dos ideais. Devo sentir cada vez mais tudo. Quando digo tudo, quero dizer tudo. Devo deixar de sofrer por mim me amando. Quero deixar de ser pequeno amando o enorme e poderoso amor do mundo, meu e dela.
(O homem abre os olhos. Sua expressão é de paz. Ele dá um discreto sorriso, levanta-se lentamente, veste-se e sai pela mesma porta que entrou. Na parede do quarto há uma foto de Osho.)
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