(Colorido) (Cena única)
(O ambiente é um quarto rústico porém muito bem arrumado. A cama é de frente para uma enorme janela com cortinas brancas. O adolescente tem cerca de 14 anos. O pai, 53 anos).
(A cena se inicia com o menino dormindo profundamente. O pai chega e abre as cortinas. Uma enorme claridade invade o quarto. Ele deita-se na cama e espera calmamente o filho despertar. O menino desperta e encosta na cabeçeira da cama, esfregando os olhos).
- Dormiu bem?
- Sim.
- Gostou do almoço?
- Sim.
- Bom, acorde pois o dia ainda está muito bonito.
(O filho dá um longo bocejo, pensa um pouco e lembra-se de uma pergunta que gostaria de perguntar há algum tempo).
- Você já foi ator?
- Há muito tempo atrás.
- Quanto tempo?
- Eu devia ter uns 18 ou 19 anos.
- Como era?
- Legal. Eu me lembro quando interpretei Hamlet, de Shakespeare. Você conheçe essa história?
- Não muito, mas conheço Romeu e Julieta.
- Ah sim! A história daquelas duas famílias que brigam entre si, você lembra o nome?
- Não.
- Eram os Capuletos e os Montecchios.
- É verdade. O que mais você lembra da sua época de ator?
(O menino permanece na mesma posição. O pai deita-se de lado apoiado no cotovelo).
- Faz muito tempo, Joãozinho.
- Qual foi sua primeira peça?
- Bom, essa eu lembro. Foi Adão e Eva, que eu interpretava com uma amiga.
- Amiga?
- Sim.
- Como ela era?
- Linda. Belíssima. Ela já tinha experiência com algumas peças de teatro, mas para mim foi o primeiro ensaio sério.
- Como foi o ensaio?
- Eu lembro até hoje. Foi assim, eu havia lido os textos e combinado de ensaiar na casa dela de tarde. O mais legal é que decidimos interpretar à maneira mais realística possível!
- Como assim? Não entendi.
- Bom, Adão e Eva andavam nús no paraíso, não havia roupas.
- E você ficou peladão na frente dela?
- Sim. Eu cheguei em sua casa, nós lemos o roteiro todo e começamos o ensaio. Tiramos toda a nossa roupa.
(O pai fica calado por alguns segundos pensando).
- Foi a primeira vez que eu transei de verdade!, disse caçoando.
- Caramba, foi a sua primeira vez?
- Sim.
- Que legal.
- Nós namoramos pelados a tarde toda, criamos uma intimidade ótima para interpretar nossos papéis.
- Qual foi a última peça que você interpretou?
- Não lembro. Talvez tenha sido um concurso no qual cheguei a final com outro candidado a um papel em não sei qual peça da época.
- Você ganhou?
- Não.
- Quem foi o escolhido?
- Foi um cara que hoje faz sucesso como ator de teatro.
- Você ficou triste?
- Não me lembro. Creio que não. Na época eu sabia que gostava mesmo é de dar aulas.
- E hoje em dia você é professor! Mas por que desistiu de atuar?
- Bem, não necessariamente. O professor muitas vezes precisa ser ator.
- Vamos jogar bola lá fora?
- Vamos.
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